Sempre que alguém usa essa expressão, acredito, é para lembrar que sua infância, adolescência ou outro período de sua vida era melhor do que a época atual. Seria mesmo possível fazer essa comparação sem correr alguns riscos?
Risco, talvez, de não perceber que nosso olhar sobre as coisas, situações, relações…sofreu alteração com o passar do tempo. Não somos mais os mesmos. Aquilo que era bom para mim tinha um contexto histórico (nossa relação com o momento específico). O que eu acreditava ser bom para mim na minha adolescência, era bom para mim na minha adolescência, não significa que era bom para todos os adolescentes ou que poderia ser bom para a adolescência de hoje.
A música que gostávamos, por exemplo, em outro momento, era cheia de significados da época, as de hoje também: cheia de significados de hoje. Tudo muda e nós mudamos, mesmo sendo difícil perceber nossas mudanças ou ainda mais difícil aceitar a mudança do mundo como algo necessário.
O que nos leva a tal citação “na minha época era melhor” pode ser consequência da memória afetiva: aquilo foi tão bom porque nos lembra algo muito prazeroso e significativo que vivenciamos num outro momento. Outra coisa que pode nos levar a tal citação seria um medo, inconsciente, da confirmação da passagem do tempo. O tempo passa, as coisas mudam e nos aproximamos do final de um ciclo, com isso, tentamos nos agarrar firmemente a um passado que não existe mais como realidade, mas como algo já vivido.
Mas quando é mesmo nossa época? Qual a época que podemos dizer que é a nossa? Posso dizer, por mim mesmo, que a minha época é o hoje, o agora. Minha infância foi numa época muito interessante, minha adolescência também. Afirmo que, como em todas as épocas, existiram coisas positivas e coisas negativas. O que eu vivi em outros momentos contribui e contribuirá para melhor compreensão do hoje: o que somos, também é consequência do passado que vivemos.
E então, será que “na minha época era melhor” ou era diferente?
Mário José Santana Vieira
Pedagogo – Psicólogo: CRP03/18273
Curso Livre Psicologia Junguiana